Artigo escrito por
Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em
Logística Ltda
Vamos
direto ao ponto! Enfrentamos diversos problemas relacionados à mão de obra no
setor logístico. Seja em seus níveis mais operacionais, passando pela estrutura
de suporte, e chegando aos executivos no topo, nos deparamos com problemas
complexos, de difícil e demorada solução.
Primeiro:
falta mão de obra qualificada; isso vem do “berço”, desde a formação desses
profissionais.
Até
mesmo as instituições de ensino mais bem conceituadas e intencionadas falham na
formação dos profissionais da área de logística. Todas têm dificuldades em
equacionar o binômio teoria x prática. Não tratam, com a devida profundidade,
de temas como legislação aplicada ao setor de transporte, custos, aspectos
fiscais e tributários, estatística, pesquisa operacional, tecnologias, etc. É
comum alguns docentes da área, em suas aulas, apresentarem meia dúzia de filmes
extraídos do YouTube, tratando de automação da operação logística, sem sequer
oferecer embasamento teórico, abordando, por exemplo, qual o investimento
necessário, aplicação prática, drivers para a tomada de decisão, etc.
Já
presenciei situações esdrúxulas; certa vez um recém-formado em um curso técnico
em logística me perguntou a diferença entre os veículos toco, truck e
carreta. Outro não sabia o que significava a sigla WMS, de Warehouse Management
System (sistema de gerenciamento de armazéns).
Segundo:
não existe uma uniformidade nas políticas de cargos e salários.
Tem
gente por aí, ocupando cargos de direção, que em muitas empresas sequer seria
qualificado como um Analista de Logística Júnior. Certas corporações exigem
para os Analistas em nível Pleno e Sênior uma formação sólida, com terceiro
grau completo e pós-graduação concluída ou em andamento, inglês fluente, pleno
domínio do Microsoft Office, conhecimento de Autocad, Engenharia Econômica,
etc. E não param por aí, pois em muitos casos citam como um diferencial uma
segunda língua estrangeira, cursos no exterior, formação green belt ou black
belt (ou pelo menos vivência em projetos Lean ou Seis Sigma), etc.
Outras
empresas atuam de forma mais flexível, mas não oferecem condições para o
profissional se qualificar ao longo de sua carreira. Criam uma falsa sensação
de ascensão, que em algum momento terá que ser reavaliada.
Quando
falamos de política salarial, aí o problema é ainda maior. Em determinadas
empresas um Analista Júnior ganha como um Assistente de Logística e um Gerente
é remunerado como um Supervisor; você já viu Analista Junior ganhar R$ 1.500,00
e Gerente de Logística ganhar R$ 6.000,00? Pois é, existem muitos casos.
Em
outras, pagam-se salários exorbitantes quando comparamos com as práticas de
mercado. Isso sem qualquer embasamento.
E
em algumas empresas, é comum vermos para um mesmo cargo, salários diferentes.
Não estamos falando de 10% ou 20% de diferença, mas 50%. São as conhecidas
situações “especiais”, tratadas de forma “personalizada”.
O
mais interessante é que salário é uma informação extremamente confidencial, mas
que todo mundo sabe!
Assim,
fica difícil estabelecer um plano de carreira, algo muito exigido atualmente.
Muitas vezes, o que retém um talento profissional são as perspectivas futuras e
não a condição atual. Sabendo onde pode chegar e tendo uma ideia de quando
chegará no cargo desejado, o profissional desenvolve uma grande capacidade de
resiliência e de superação, ultrapassando os obstáculos ao longo de sua
trajetória. Sem isso, ao contrário, caminha no escuro, podendo abandonar uma
carreira promissora ao deparar com uma oportunidade pontual.
Terceiro:
pouco (ou nada) evoluímos na questão da remuneração variável em logística.
Esse
é um tema delicado. Esbarramos quase sempre nas “políticas” da área de Recursos
Humanos. Por que, para a área de Vendas existe uma política de remuneração
variável e para a Logística isso nunca é possível?
Os
raros casos existentes têm se demonstrado extremamente efetivos, com ganhos
espetaculares em produtividade, acurácia e nível de serviço.
Quarto:
em logística não existe glamour.
Ninguém
faz uma selfie ao lado de um porta-pálete, na doca ou junto a uma
empilhadeira. Se você postar isso no Instagram ou no Facebook vão achar que
você foi sequestrado!
Eventos
com palestrantes mágicos ou pirotécnicos? Ex lutadores de MMA ou oficiais do
BOPE relatando a superação de desafios? Esqueça!
Workshops
em resorts na Bahia, Pernambuco ou Ceará? Viagens aos confins da Amazônia ou
para o Pantanal para uma maior inspiração? Esqueça!
Coffee-breaks
com doces finos, variedades de pães e queijos, sucos tropicais, frutas
laminadas, cafés especiais? Esqueça!
Convites
para eventos da empresa? Ah sim, só se for para participar da organização da
festa.
Premiação
com viagens para a Disney? Hahaha. A premiação pelo trabalho excepcional é a
garantia do seu emprego.
Repito:
em logística não existe glamour. Existe trabalho! Somos garçons. Estamos aí
para servir. E como todo garçom, precisamos saber lidar com clientes chatos,
insatisfeitos, mal-educados. Precisamos conviver diariamente com a pressão da
área de Vendas, Marketing, Produção, Financeiro, Jurídico, RH,
Qualidade, SSMA, etc. E não esqueça dos Clientes e dos Clientes de seus
Clientes.
Nem
todo mundo está preparado para sobreviver a tudo isso. Charles Darwin
reavaliaria suas teorias se tivesse trabalhado em logística.
Quinto:
investe-se muito pouco (ou quase nada) em capacitação logística.
As
empresas querem um super-homem, mas pouco ou nada investem para isso. É preciso
“aprender” no dia a dia.
Às
vezes até preveem recursos em seus orçamentos, mas ao longo do ano as verbas
“desaparecem”. Escuta-se: “não é o momento”, “não há quem possa te substituir
na semana do curso”, “estamos com muitos problemas agora, deixe para uma nova
oportunidade”, “isso você já deveria saber”, “você sabe muito mais que esses
instrutores”, “temos inventário agendado para a data”, etc. E nessa linha vamos
empurrando, literalmente, com a barriga, protelando decisões importantes, que
ali na frente farão a sutil diferença entre o sucesso e o fracasso.
Cada
vez mais presencio profissionais corajosos que investem por conta própria em
sua formação, não esperando a decisão da empresa. É comum vermos pessoas em
férias participando de cursos, pois nem sequer o dia é concedido pela empresa.
Um conselho para você: assim que der, caia fora dessas empresas. Ainda existem
corporações que investem em seus colaboradores.
Poderia
relacionar o sexto, o sétimo ou o oitavo problema. Poderia falar do conflito
entre a nova geração e as gerações anteriores. Poderia citar a questão da
(falta) mobilidade na pirâmide hierárquica. Também poderia seguir uma linha
comportamental, falando de liderança, comunicação, feedback, etc.
Poderia explorar a falta de recursos financeiros ou a questão da logística como
prioridade estratégica na sua empresa. Mas, acho que tratamos de pontos
suficientes para uma longa e aprofundada reflexão.
Tenha
um bom dia. Sucesso! Sigamos em frente em nossa batalha diária!
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